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Programa 5: Clã e Deolinda (Letras)

publicado em 31/01/2020

Acima, a chamada para o Programa 5.

 

1) Problema de expressão – Clã (Kazoo – 1997)

Letra: Carlos Monteiro / Música: Hélder Goncalves

 

Só pra dizer que te amo

Nem sempre encontro o melhor termo

Nem sempre escolho o melhor modo

 

Devia ser como no cinema

A língua inglesa fica sempre bem

E nunca atraiçoa ninguém

 

O teu mundo está tão perto do meu

E o que digo está tão longe

Como o mar está do céu

 

Só pra dizer que te Amo

Não sei por que este embaraço

Que mais parece que só te estimo

 

E até nos momentos em que digo que não quero

E o que sinto por ti são coisas confusas

E até parece que estou a mentir

 

As palavras custam a sair

Não digo o que estou a sentir

Digo o contrário do que estou a sentir

 

O teu mundo está tão perto do meu

E o que digo está tão longe

Como o mar está do céu

 

E é tão difícil dizer amor

É bem melhor dizê-lo a cantar

Por isso esta noite, fiz esta canção

Para resolver o meu problema de expressão

Pra ficar mais perto, bem mais de perto

Ficar mais perto, bem mais de perto

 

 

2) O sopro do coração – Clã (Lustro – 2000)

Letra: Sérgio Godinho; Música: Hélder Gonçalves

 

Sim, o amor é vão

É certo e sabido

Mas então (porque não) porque sopra ao ouvido

O sopro do coração

 

Se o amor é vão

Mera dor, mero gozo

Sorvedouro caprichoso

No sopro do coração

No sopro do coração

 

Mas nisto o vento sopra doido

E o que foi do corpo num turbilhão

Sopra doido

E o que foi do corpo alado nas asas do turbilhão

 

Nisto já nem de ar precisas

Só meras brisas,

Raras, raras, raras

Corto em dois, limão

Chego ao ouvido

Ao frescor, ao barulho

A acidez do mergulho

No sangue do coração

 

Pulsar em vão

É bem dele

É bem isso

E apesar disso eriça a pele

No sopro do coração

No sopro do coração

 

Mas nisto o vento sopra doido

E o que foi do corpo num turbilhão

Sopra doido

E o que foi do corpo alado nas asas do turbilhão

Nisto já nem de ar precisas

Só meras brisas,

Raras, raras, raras

No sopro do coração

 

Sim, o amor é vão

Todo o amor é vão

Mas nisto o vento sopra doido

E o que foi do corpo num turbilhão

Sopra doido

 

E o que foi do corpo alado nas asas do turbilhão

Nisto já nem de ar precisas

Só meras brisas raras

Sopra doido

 

E o que foi do corpo alado nas asas do turbilhão

Nisto já nem de ar precisas

Só meras brisas raras,

Raras, brisas raras

 

 

3) Movimento Perpétuo Associativo – Deolinda (Canção ao Lado – 2008)

Letra e Música de Pedro da Silva Martins

 

Agora sim, damos a volta a isto!

Agora sim, há pernas para andar!

Agora sim, eu sinto o optimismo!

Vamos em frente, ninguém nos vai parar!

 

-Agora não, que é hora do almoço...

-Agora não, que é hora do jantar...

-Agora não, que eu acho que não posso...

-Amanhã vou trabalhar...

 

Agora sim, temos a força toda!

Agora sim, há fé neste querer!

Agora sim, só vejo gente boa!

Vamos em frente e havemos de vencer!

 

-Agora não, que me dói a barriga...

-Agora não, dizem que vai chover...

-Agora não, que joga o Benfica...

e eu tenho mais que fazer...

 

Agora sim, cantamos com vontade!

Agora sim, eu sinto a união!

Agora sim, já ouço a liberdade!

Vamos em frente, e é esta a direcção!

 

-Agora não, que falta um impresso...

-Agora não, que o meu pai não quer...

-Agora não, que há engarrafamentos...

-Vão sem mim, que eu vou lá ter...

 

 

4) Um contra o outro – Deolinda  (Dois selos e um carimbo – 2010)

Letra e Música de Pedro da Silva Martins

 

Anda, desliga o cabo,

que liga a vida, a esse jogo,

joga comigo, um jogo novo,

com duas vidas, um contra o outro.

 

Já não basta,

esta luta contra o tempo,

este tempo que perdemos,

a tentar vencer alguém.

 

Ao fim ao cabo,

o que é dado como um ganho,

vai-se a ver desperdiçamos,

sem nada dar a ninguém.

 

Anda, faz uma pausa,

encosta o carro,

sai da corrida,

larga essa guerra,

que a tua meta,

está deste lado,

da tua vida.

 

Muda de nível,

sai do estado invisível,

põe o modo compatível,

com a minha condição,

que a tua vida,

é real e repetida,

dá-te mais que o impossível,

se me deres a tua mão.

 

Sai de casa e vem comigo para a rua,

vem, q'essa vida que tens,

por mais vidas que tu ganhes,

é a tua que,

mais perde se não vens.

 

Sai de casa e vem comigo para a rua,

vem, q'essa vida que tens,

por mais vidas que tu ganhes,

é a tua que,

mais perde se não vens.

 

Anda, mostra o que vales,

tu nesse jogo,

vales tão pouco,

troca de vício,

por outro novo,

que o desafio,

é corpo a corpo.

 

Escolhe a arma,

a estratégia que não falhe,

o lado forte da batalha,

põe no máximo o poder.

 

Dou-te a vantagem, tu com tudo, eu sem nada,

que mesmo assim, desarmada, vou-te ensinar a perder.

 

Sai de casa e vem comigo para a rua,

vem, q'essa vida que tens,

por mais vidas que tu ganhes,

é a tua que,

mais perde se não vens.

 

Sai de casa e vem comigo para a rua,

vem, q'essa vida que tens,

por mais vidas que tu ganhes,

é a tua que,

mais perde se não vens.

 

Sai de casa e vem comigo para a rua,

vem, q'essa vida que tens,

por mais vidas que tu ganhes,

é a tua que,

mais perde se não vens.

 

Sai de casa e vem comigo para a rua,

vem, q'essa vida que tens,

por mais vidas que tu ganhes,

é a tua que,

mais perde se não vens.

 

Sai de casa e vem comigo para a rua,

vem, q'essa vida que tens,

por mais vidas que tu ganhes,

é a tua que,

mais perde se não vens.

 

 

5)  Competência para amar – Clã (Rosa Carne – 2004)

Letra: Carlos Tê; Música: Hélder Gonçalves

 

Vieste comigo

Nesse jeito pós-moderno

De não querer saber nada

De não fazer perguntas

Essa pose cansada

Tão despida de emoção

De quem já viu tudo

E tudo é uma imensa

Repetição

 

Não fosse a minha competência para amar

E nunca teriamos acontecido

Num mundo de competências

E técnicas de ponta

A dádiva da fala

 

Quase já não conta

depois quase ias embora

Desse modo

Evanescente

Não soubesse eu ver-te

Tão transparente

E teria sido apenas

O encontro acidental

Uma simples vertigem

Dumb desporto radical

 

Não fosse a minha competência para amar

E nunca teriamos acontecido

Num mundo de competências

E técnicas de ponta

A dádiva da fala

Quase já não conta.

 

 

6) Loja do Mestre Hermeto – Clã (Disco Voador – 2011)

Letra: Carlos Tê; Música: Hélder Gonçalves

 

a loja do mestre Hermeto

tem a forma dum coreto

ele usa búzios do mar

com zumbidos de insecto

junta guizos de embalar

ao som do martelo-pilão

e assim ele faz

assim faz a percussão

 

a loja do mestre Hermeto

tem ao balcão um cigano

tocando a sua guitarra

tem a cauda dum piano

em cima duma fanfarra

tudo junto em sintonia

assim faz a harmonia

 

anda, vem daí

vem daí, vou-te levar

à loja do mestre Hermeto

anda, vou-te levar

 

na loja do mestre Hermeto

há o canto dum riacho

um compasso corredor

há um galho contrabaixo

há um canário tenor

é quem mais se desafia

um canário tenor

disputando a melodia

 

vem daí vais-te passar

tu nem vais acreditar

à loja do mestre Hermeto

vão doutores e analfabetos

na lógica do mestre Hermeto

a música não tem classe

é uma casa de passe

onde se passam carretos

 

 

7) Se uma onda invertesse a marcha – Deolinda (Dois selos e um carimbo – 2010)

Letra e Música de Pedro da Silva Martins

 

Se uma onda invertesse a marcha

e contrariasse toda a maré

E a maré revolta a Lua mudasse

e fosse a Terra o seu invés

 

Eu era multada

por ir em frente na auto-estrada

para chegar ao filme no fim

 

Com a pressa inversa

de ao teu lado ficar sentada

a desfazer aquilo que fiz

 

Se ao contrário compreendesse

aquele mau filme que não escolhi

E em reverso nunca saísse

do nosso enredo como saí

 

Eu então deixava

a minha mão aonde estava

inversamente avessa a ti

 

E ao tocá-la,

a tua mão rebobinava

esse teu corpo de volta a mim

 

E o início era o fim...

 

 

8) Parva que sou – Deolinda (Deolinda ao Vivo no Coliseu dos Recreios – 2011)

Letra e Música de Pedro da Silva Martins

 

Sou da geração sem remuneração

E nem me incomoda esta condição.

Que parva que eu sou!

 

Porque isto está mau e vai continuar,

Já é uma sorte eu poder estagiar.

Que parva que eu sou!

 

E fico a pensar,

Que mundo tão parvo

Onde para ser escravo é preciso estudar.

 

Sou da geração 'casinha dos pais',

Se já tenho tudo, para quê querer mais?

Que parva que eu sou!

 

Filhos, marido, estou sempre a adiar

E ainda me falta o carro pagar,

Que parva que eu sou!

 

E fico a pensar

Que mundo tão parvo

Onde para ser escravo é preciso estudar.

 

Sou da geração 'vou queixar-me para quê?'

Há alguém bem pior do que eu na tv.

Que parva que eu sou!

 

Sou da geração 'eu já não posso mais!'

Que esta situação dura há tempo demais

E parva não sou!

 

E fico a pensar,

Que mundo tão parvo

Onde para ser escravo é preciso estudar.

 

 

9) A paz não te cai bem – Clã (Corrente – 2014)

Letra: John Ulhoa; Música: Hélder Gonçalves

 

Se o amor faz sofrer

Se a paixão faz doer

O que o ódio fará?

 

Não soube o que dizer

Magoei sem querer

Mas não queres perdoar

 

Discutiste, insististe

E pior, não me ouviste

Nem me viste chorar

 

E eu cedi, concordei,

Admiti que errei

Mas só queres guerrear

 

E eu sei

Não tem fim

Não queres a paz que

trago em mim

Não, não...

 

Argumentos que ferem

Silêncios torturam

Gestos são letais

 

E afinal, pra quê mais?

Concordar jamais

Mesmo que eu diga sim

 

E eu sei

Não tem fim

Não queres a paz que trago em mim

 

Vi também

Que a paz em ti

Não fica bem

Não, não...

 

E eu vou

Vou desandar daqui

Antes que o céu decida

Desabar sobre mim

 

Eu sei

Não tem fim

Não queres a paz que trago em mim

 

Vi também

Que a paz em ti

Não fica bem

 

Não tem fim

Tu não queres a paz que trago em mim

Sei também

Que a paz em ti não fica bem

Não, não…

 

 

10) No Baile das Bambolinas – Clã (Fã – 2017)

Letra: Regina Guimarães; Música: Hélder Gonçalves

 

Varanda sem Julieta

Quartelada sem Romeu

Cena gaga, cena preta

Quem aqui está não sou eu

 

Cada vez que canto mudo

escuto o desenho da luz

canto para ser mudada

o escuro não me seduz

 

Boneca de som

vestida de mil cortinas

no baile das bambolinas

 

A luz tem a sua mesa

a cena tem uma boca

ribalta mas não baixeza

no palco posso ser louca

 

Ao grão da voz junto o tom

ao refrão dores de barriga

e junto o som ao frisson

do medo faço cantiga

 

Boneca de som

vestida de mil cortinas

no baile das bambolinas

 

Acho que tanto me faz

ficar na cauda das vendas

ser cabeça de cartaz

ou buraco nas agendas

 

Bichinho de camarim

a aranha desce da teia

todas as vozes em mim

se alimentam de plateia

 

Boneca de som

vestida de mil cortinas

no baile das bambolinas

 

Qual é a casa qual é ela

que torre que tem fosso

microfones de lapela

e microfones de rosto

 

Que tem pano para mangas

e cortina de veludo

estrelas feitas de missangas

e céu de anjinho papudo

 

Que casa é mais do que minha

e embora a ninguém pertença

eu lá sinto-me rainha

tão pequena e tão imensa

 

Boneca de som

vestida de mil cortinas

no baile das bambolinas

 

 

11) Semáforo da João XXI – Deolinda (Mundo Pequenino – 2013)

Letra e Música de Pedro da Silva Martins

 

Sentada no puff

Ela relia Proust

Ele fazia bluff no bridge

 

Ela ouvia Bach

Ele curtia The Clash

Entre os dois não havia clique

 

Ela fazia step

Ele comia num snack

Ela citava o Brecht, ele, nicles

 

Ela vestia Dior

Ele, uns ténis Reebok

Entre os dois não havia clique

 

Ela ia ao Lux

E bebia uma flûte

E ele, de Super Bock num strip

 

Ela morava num loft

Ele orientava um spot

Entre os dois não havia clique

 

Mas um dia um querubim

Veio a Terra e fez plim

Num sinal da João XXI

 

E assim sem haver nenhum clique

Entre os dois houve carinhosamente

Entre os dois houve apaixonadamente

Entre os dois houve apenas e somente

Buumm!

 

 

12) Corzinha de verão – Deolinda (Outras Histórias – 2016)

Letra e Música de Pedro da Silva Martins

 

Por que é que o sol nunca brilha quando fico de férias

Aos fins de semana ou nos meus dias de folga?

Eu passo os dias a ver gente em fato de banho

Calções e havaiana e eu sempre de camisola

 

E eu andei o ano inteiro, a juntar o meu dinheiro

Para esta desilusão

Dava todo o meu ouro por um pouco do teu bronze

Uma corzinha de verão

 

Vento, eu na praia a levar com vento

A rogar pragas e a culpar são pedro

Que mal fiz eu ao céu?

E tento, juro que tento imaginar bom tempo

Espalho o protetor solar e estendo o corpo no museu

 

Por que é que tudo conspira contra a minha vontade?

Sim, sim é verdade, não estou a ser pessimista

É que a vizinha da cave é sempre a mais bronzeada

Traz um sorriso na cara e não sabe quem foi kandinsky

 

E eu andei o ano inteiro, a juntar o meu dinheiro

Para esta desilusão

Dava todo o meu ouro por um pouco do teu bronze

Uma corzinha de verão

 

Vento, eu na praia a levar com vento

A rogar pragas e a culpar são pedro

Que mal fiz eu ao céu?

E tento, juro que tento imaginar bom tempo

Espalho o protetor solar e estendo o corpo no museu

 

E tento, juro que tento imaginar bom tempo

Espalho o protetor solar e estendo o corpo no museu

O corpo no museu

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