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Programa 13: As Vozes de Hoje do Fado - Letras

publicado em 15/03/2019

Acima, a chamada para o Programa 13.

 

Pesquisa: Maria Júlia Franco de Souza e Beatriz Macedo Souza

 

 

1) Deus também gosta de fado – Rão Kyao & Teresa Salgueiro

Autores: Tó Moliças / Rão Kyao

 

É quando o fado acontece

Que se respira a ventura

De quem da vida se esquece

Na mais lúcida loucura

 

Silêncio de paz divina

Sente-se o tempo parado

Até a gente imagina

Que Deus está ao nosso lado

 

E grito dentro de mim

Com a força do vento irado

Para que o fado seja assim

Deus também gosta de fado

 

2) Canção do mar – Dulce Pontes

Autores: Frederico de Brito / Ferrer Trindade

 

Fui bailar no meu batel

Além do mar cruel

E o mar bramindo

Diz que eu fui roubar

A luz sem par

Do teu olhar tão lindo

 

Vem saber se o mar terá razão

Vem cá ver bailar meu coração

 

Se eu bailar no meu batel

Não vou ao mar cruel

E nem lhe digo aonde eu fui cantar

Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo

 

Vem saber se o mar terá razão

Vem cá ver bailar meu coração

 

Se eu bailar no meu batel

Não vou ao mar cruel

E nem lhe digo aonde eu fui cantar

Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo

 

3) O espírito da carne – Paulo Bragança

Autores: Paulo Bragança

 

Teu corpo

Escultura de carne apetecida

Que me leva à paixão

Me anula a razão

E suicida

 

Teu corpo

Etéria matéria de sangue

Grão de espuma encarnado

Pelo amor devorado

Exangue

 

Teu corpo

Alfa do meu existir total

Cristo de marfim impoluto

Ómega do ser

Absoluto Sensual

 

4) Princesa prometida – Aldina Duarte

Autores: Aldina Duarte / José Marques

 

Há um véu no meu olhar

Que a brilhar dá que pensar

Nos mistérios da beleza

Espelho meu que aconteceu

Do que é teu e do que é meu

Já não temos a certeza

 

A moldura deste espelho

Espelho feito de oiro velho

Tem os traços de uma flor

Muitas vezes foi partido

Prometido e proibido

Aos encantos do amor

 

Espelho meu diz a verdade

Da idade da saudade

À mulher envelhecida

Segue em frente na memória

Mata a glória dessa história

Da princesa prometida.

 

5) Mar Português – Helder Moutinho

Autores: José Campos / Fernando Pessoa

 

Ó, mar salgado

Quanto do teu sal são lágrimas de Portugal

 

Por te cruzarmos quantas mães choraram

Quantos filhos em vão rezaram

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar

 

Valeu a pena, sempre vale a pena

Se alma não é pequena

 

Quem passar além do Bojador

Tem de passar além da dor

 

Deus, ao mar o perigo e o abismo deu

Mas nele é que espelhou o céu

 

Ó, mar salgado!

 

6) O negro fica-lhe bem – Pedro Moutinho

Autores: António dos Santos / Hélder Moutinho

 

Vestida de noite escura

De madrugada tambêm

Tem um olhar de ternura

E o negro fica-lhe bem

 

Tem uma voz que é do vento

Que é do vento e de ninguem

É um grito e um lamento

E o negro fica-lhe bem

 

Senhora dona do fado

E de Lisboa tambêm

Tens um olhar tão magoado

E o negro fica-te bem.

 

7) Sopra o vento – Joana Amendoeira

Autores: Fernando Pessoa / Paulo Paz

 

Sopra o vento, sopra o vento,

Sopra alto o vento lá fora,

Mas também meu pensamento

Tem um vento que o devora.

 

Há uma íntima intenção

Que tumultua o meu ser

E faz do meu coração

O que um vento quer varrer;

 

Não sei se há ramos deitados

Abaixo no temporal,

Se pés do chão levantados

Num sopro onde tudo é igual

 

Dos ramos que ali caíram

Sei só que há mágoas e dores

Destinadas a não ser

Mais que um desfolhar de flores.

 

Sopra o vento, sopra o vento,

Sopra alto o vento lá fora,

Mas também meu pensamento

Tem um vento que o devora.

 

8) Asas – Kátia Guerreiro

Autores: Maria Luisa Baptista / Georgino de Sousa

 

É no teu corpo que invento

Asas para o sofrimento

Que escorre do meu cansaço.

Só quem ama tem razão

Para entender a emoção

Que me dás no teu abraço.

 

Eu quero lançar raízes

E viver dias felizes

Na outra margem da vida.

Solta os cabelos ao vento,

Muda em riso esse lamento,

Apressemos a partida.

 

Aceita o meu desafio,

Embarca neste navio,

Rumo ao sol e ao futuro.

Corta comigo as amarras       

Que nos prendem como garras         

A um passado tão duro.

 

Esquece o tempo e a dor,

Pensa só no nosso amor,

Vem, dá-me a tua mão.

Sobe comigo a encosta,

Porque quando a gente gosta

Ninguém cala o coração.

 

9) Grito – Ricardo Ribeiro

Autores: Amália Rodrigues / Carlos Gonçalves

 

Silêncio! Do silêncio faço um grito

O corpo todo me dói

Deixai-me chorar um pouco.

De sombra a sombra

 

Há um céu tão recolhido De sombra a sombra

Já lhe perdi o sentido. Ao céu!

 

Aqui me falta a luz. Aqui me falta uma estrela

Chora-se mais quando se vive atrás dela.

 

E eu, a quem o céu esqueceu

Sou a que o mundo perdeu

Só choro agora

Que quem morre já não chora.

 

Solidão! Que nem mesmo essa é inteira...

Há sempre uma companheira, uma profunda amargura.

 

Ai, solidão, quem fora escorpião

Ai! Solidão.

E se mordera a cabeça!

 

Adeus

Já fui para além da vida do que já fui tenho sede

Sou sombra triste encostada a uma parede.

Adeus,

Vida que tanto duras, vem morte que tanto tardas

Ai, como dói a solidão quase loucura.

 

Já fui para além da vida do que já fui tenho sede

Sou sombra triste encostada a uma parede.

Adeus,

Vida que tanto duras, vem morte que tanto tardas

Ai, como dói a solidão quase loucura.

 

10) Solidão – Marco Rodrigues

Autores: Ferrer Trinidade / Reinaldo Ferreira

 

Solidão de quem tremeu

A tentação do céu e dos encantos

O que o céu me deu

Serei bem eu sob este véu de pranto

 

Sem saber se choro algum pecado

A tremer imploro o céu fechado

 

Triste amor, o amor de alguém

Quando outro amor se tem abandonado

E não me abandonei

Por mim, ninguém já se detém na estrada

 

Solidão de quem tremeu

A tentação do céu e dos encantos

O que o céu me deu

Serei bem eu sob este véu de pranto

 

Sem saber se choro algum pecado

A tremer imploro o céu fechado

 

Triste amor, o amor de alguém

Sob este véu de pranto

Solidão

 

11) Com que voz – Ana Maria Bobone

Autores: Alain Oulman / Luis de Camões

 

Com que voz chorarei meu triste fado

Que em tão dura paixão me sepultou

Que mor não seja a dor que me deixou

O tempo, que me deixou o tempo de meu bem desenganado

 

Mas chorar não estima neste estado

Aonde suspirar nunca aproveitou

Triste quero viver, pois se mudou

Em tristeza a alegria do passado

 

(Assim a vida passo descontente

Ao som nesta prisão do grilhão duro

Que lástima ao pé que a sofre e sente.)

 

De tanto mal, a causa é amor puro

Devido a quem de mim tenho ausente

Por quem a vida e bens dele aventuro

 

12) Pouco tempo – Ana Laíns

Autores: Lídia Oliveira / Diogo Clemente

 

É pouco o meu tempo

Para guardar tudo o que trago em pensamento

Para escrever tudo o que sinto cada momento

 

É pouco o meu tempo

Para eternizar tudo o que corre veloz, no vento

Mostrando assim, bem mais profundo meu sentimento

 

É pouco o meu tempo

Para sentir quanta beleza me passa ao lado

Sem alterar este meu ar preocupado

 

É pouco o meu tempo

Para conseguir ter o que quero da minha vida

No que passou, alguma ilusão perdida

Mas no que resta, a esperança ainda vivida

 

13) Fado do ladrão enamorado – Nuno Câmara Pereira

Autores: Carlos Tê / Rui Veloso

 

Vê se pões a gargantilha

Porque amanhã é domingo

E eu quero que o povo note

A maneira como brilha

No bico do teu decote

 

E se alguém perguntar

Dizes que eu a comprei

Ninguém precisa saber

Que foi por ti que a roubei

 

E se alguém desconfiar

Porque não tenho um tostão

Dizes que é uma vulgar

Joia de imitação

 

Nunca fui grande ladrão

Nunca dei golpe perfeito

Acho que foi a paixão

Que me aguçou o jeito

 

Por isso põe a gargantilha

Porque amanhã é domingo

E eu quero que o povo note

A maneira como brilha

No bico do teu decote

 

14) Meditando eu a vi – João Pedro & Raquel Tavares

Autor: Jorge Fernando

 

Meditando eu a vi

Olhar preso no além

Olhos, misto de ternura e de fé

Lembrando a minha mãe

 

Conversamos sobre a cor

Do mar em tempestade

Foi então que ela sorriu e o amor

Fez-se flor nessa tarde

 

Tão pouco foi o nosso tempo

Para tão grande paixão

Perdoa amor, eu partir sem adeus

Tarde na vida

Encontrei o teu amor, a tua mão

Mas espero, amor, o teu perdão e o de Deus

 

Setembro ia caindo

E o mar se agigantava

E essa força que no tempo nos unia

Dia a dia aumentava

 

Mas o mar que tanto amara

Nos seus braços a levou

Sobre a areia que o mar há pouco molhara

O recado deixou

 

Então soube que ela descobriu a cor

Do mar em tempestade

 

15) Valeu a pena – Maria da Fé

Autor: Mário Moniz Pereira

 

Com voz serena

perguntaram-me ao ouvido

valeu a pena

vir ao mundo e ter nascido

 

Com lealdade

vou responder, mas primeiro

consultei meu travesseiro

sobre a verdade

 

Tive porém, que lembrar o meu passado

horas boas do meu fado

e as más também

 

Valeu a pena ter vivido o que vivi

valeu a pena ter sofrido o que sofri

valeu a pena ter amado quem amei

ter beijado quem beijei valeu a pena

 

Valeu a pena ter sonhado o que sonhei

valeu a pena ter passado o que passei

valeu a pena conhecer quem conheci

ter sentido o que senti valeu a pena

 

valeu a pena ter cantado o que cantei

ter chorado o que chorei valeu a pena

Valeu a pena ter amado quem amei

ter beijado quem beijei valeu a pena

 

Valeu a pena ter cantado o que cantei

ter chorado o que chorei valeu a pena