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Programa 4: Amália Rodrigues II - Letras

publicado em 12/12/2018

Acima, a chamada para o Programa 4.

 

Pesquisa: Maria Júlia Franco de Souza e Beatriz Macedo Souza

 

1) Nem às paredes confesso

            Autores: Max  Artur Ribeiro / Ferrer Trindade

 

Não queiras gostar de mim, sem que eu te peça

Nem me dês nada que ao fim, eu não mereça

Vê se me deitas depois culpas no rosto

Isto é sincero porque não quero dar-te um desgosto

 

De quem eu gosto nem às paredes confesso

E até aposto que não gosto de ninguém

Podes sorrir, Podes mentir, podes chorar também

De quem eu gosto, nem às paredes confesso

 

Quem sabe se te esqueci ou se te quero

Quem sabe até se é por ti por quem eu espero

Se eu gosto ou não afinal, isso é comigo

Mesmo que penses que me convences nada te digo

 

De quem eu gosto nem às paredes confesso

E até aposto que não gosto de ninguém

Podes sorrir, podes mentir, podes chorar também

De quem eu gosto, nem às paredes confesso

 

02) Confesso

           Autores: Frederico Valério / José Galhardo

 

Confesso que te amei, confesso

Não coro de o dizer, não coro

Pareço outra mulher, pareço

Mas lá chorar por ti, não choro

 

Fugir do amor tem seu preço

E a noite em claro atravesso

Longe do meu travesseiro

Começo a ver que não esqueço

Mas lá perdão não te peço

Sem que me peças primeiro

 

De rastos a teus pés perdida te adorei

Até que me encontrei, perdida

Agora já não és na vida o meu senhor

Mas foste o meu amor, na vida

 

Não penses mais em mim, não penses

Não estou nem p'ra te ouvir por carta

Convences as mulheres, convences

Estou farta de o saber, estou farta

 

Não escrevas mais, nem me incenses

Quero que tu me diferences

Dessas que a vida te deu

A mim já não me pertences

Mas lá vencer-me não vences

Porque vencida estou eu

 

De rastos a teus pés perdida te adorei

Até que me encontrei, perdida

Agora já não és na vida o meu senhor

Mas foste o meu amor, na vida.

 

3) Maldição

        Autores: Alfredo Marceneiro q Armando Vieira Pinto

 

Que destino ou maldição

Manda em nós, meu coração!

Um do outro assim perdidos

Somos dois gritos calados

Dois fados desencontrados

Dois amantes desunidos

 

Por ti, sofro e vou morrendo

Não te encontro, nem te entendo

Amo e odeio sem razão

Coração, quando te cansas

Das nossas mortas esperanças

Quando paras, coração?

 

Nesta luta, esta agonia

Canto e choro de alegria

Sou feliz e desgraçada

Que sina a tua, meu peito

Que nunca estás satisfeito

Que dás tudo e não tens nada!

 

A gelada solidão

Que tu me dás, coração

Não é vida, nem é morte

É lucidez, desatino

De ler no próprio destino

Sem poder mudar-lhe a sorte

 

4) Eu queria cantar-te um fado

       Autores: Franklin Godinho / António de Sousa Freitas

 

Eu queria cantar-te um fado

Que toda a gente ao ouvi-lo

Visse que o fado era teu

Fado estranho e magoado

Mas que pudesse senti-lo

Tão na alma como eu

 

E seria tão diferente

Que ao ouvi-lo toda a gente

Dissesse quem o cantava

Quem o escreveu não importa

Que eu andei de porta em porta

Para ver se te encontrava

 

Eu hei-de por nalguns versos

No fado que há nos teus olhos,

O fado da tua voz.

Nossos fados são diversos

Tu tens um fado, eu tenho outro

Triste fado temos nós

 

5) Maria Lisboa

          Autores: Alain Oulman / David Mourão-Ferreira

 

É varina, usa chinela / Tem movimentos de gata

Na canastra, a caravela / No coração, a fragata

 

Em vez de corvos no xaile gaivotas vêm poisar

Quando o vento a leva ao baile, baila no baile com o mar

 

É de conchas o vestido, tem algas na cabeleira

E nas veias, o latido do motor duma traineira

 

Vende sonho e maresia, tempestades apregoa

Seu nome próprio, Maria. Seu apelido, Lisboa

 

6) Madrugada de Alfama

        Autores: Alain Oulman / David Mourão-Ferreira

 

Mora num beco de Alfama e chamam-lhe a madrugada,

Mas ela, de tão estouvada, nem sabe como se chama

 

Mora numa água-furtada que é a mais alta de Alfama

E que o sol primeiro inflama quando acorda à madrugada.

Mora numa água-furtada que é a mais alta de Alfama.

 

Nem mesmo na Madragoa ninguém compete com ela,

Que do alto da janela tão cedo beija Lisboa.

 

E a sua colcha amarela faz inveja à Madragoa:

Madragoa não perdoa que madruguem mais do que ela

E a sua colcha amarela faz inveja à Madragoa.

 

Mora num beco de Alfama e chamam-lhe a madrugada;

São mastros de luz doirada os ferros da sua cama.

 

E a sua colcha amarela a brilhar sobre Lisboa,

É como a estátua de proa que anuncia a caravela,

A sua colcha amarela a brilhar sobre Lisboa.

 

7) Povo que lavas no rio – Amália Rodrigues

              Autores: Joaquim Campos / Pedro Homem de Mello

 

Povo que lavas no rio que talhas com o teu machado

As tábuas do meu caixão

Povo que lavas no rio que talhas com o teu machado

As tábuas do meu caixão

Pode haver quem te defenda, quem compre o teu chão sagrado

Mas a tua vida não

 

Fui ter à mesa redonda beber em malga que esconda

O beijo de mão em mão

Fui ter à mesa redonda beber em malga que esconda

O beijo de mão em mão

Era o vinho que me deste, água pura, fruto agreste

Mas a tua vida não

 

Aromas de urze e de lama, dormi com eles na cama

Tive a mesma condição

Aromas de urze e de lama, dormi com eles na cama

Tive a mesma condição

Povo, povo, eu te pertenço. Deste-me alturas de incenso

Mas a tua vida não

 

Povo que lavas no rio que talhas com o teu machado

As tábuas do meu caixão

Povo que lavas no rio que talhas com o teu machado

As tábuas do meu caixão

Pode haver quem te defenda, quem compre o teu chão sagrado

Mas a tua vida não

 

8) Cuidei que tinhas morrido

            Autores: Autores: Alain Oulman / Pedro Homem de Mello

 

Ao passar pelo ribeiro

Onde às vezes me debruço

Fitou-me alguém corpo inteiro

Dobrado como um soluço

 

Pupilas negras, tão lassas

Raízes iguais às minhas

Meu amor, quando me enlaças

Porventura as adivinhas

Meu amor, quando me enlaças

 

Que palidez nesse rosto

Sob o lençol do luar

Tal e qual quem, ao sol posto

Estivera agonizar

 

Deram-me então por conselho

Tirar de mim o sentido

Mas depois vendo-me ao espelho

Cuidei que tinha morrido

Cuidei que tinhas morrido

 

 

9) Abandono

          Autores: Alain Oulman / David Mourão-Ferreira

 

Por teu livre pensamento

Foram-te longe encerrar

Tão longe que o meu lamento

Não te consegue alcançar

E apenas ouves o vento

E apenas ouves o mar

 

Levaram-te a meio da noite

A treva tudo cobria

Foi de noite numa noite

De todas a mais sombria

Foi de noite, foi de noite

E nunca mais se fez dia.

 

Ai! Dessa noite o veneno

Persiste em me envenenar

Oiço apenas o silêncio

Que ficou em teu lugar

E ao menos ouves o vento

E ao menos ouves o mar

 

10) Trova do vento que passa

           Autores: Alain Oulman / Manuel Alegre

 

Pergunto ao vento que passa notícias do meu país

E o vento cala a desgraça, o vento nada me diz?

 

Pergunto aos rios que levam tanto sonho à flor das águas

E os rios não me sossegam, levam sonhos deixam mágoas

 

Levam sonhos deixam mágoas. Ai, rios do meu país

Minha pátria à flor das águas para onde vais? Ninguém diz

 

Se o verde trevo desfolhas, pede notícias e diz

Ao trevo de quatro folhas que eu morro por meu país

 

 

11) Gaivota

           Autores:  Autores: Alain Oulman / Alexandre O'Neill

 

Se uma gaivota viesse trazer-me o céu de Lisboa

No desenho que fizesse, nesse céu onde o olhar

É uma asa que não voa, esmorece e cai no mar.

 

Que perfeito coração no meu peito bateria,

Meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia

Perfeito o meu coração.

 

Se um português marinheiro, dos sete mares andarilho,

Fosse quem sabe o primeiro a contar-me o que inventasse,

Se um olhar de novo brilho no meu olhar se enlaçasse.

 

Que perfeito coração morreria no meu peito,

Meu amor na tua mão, nessa mão onde perfeito

Bateu o meu coração.

 

Que perfeito coração no meu peito bateria,

Meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia

Perfeito o meu coração.

 

12) Com que voz – Amália Rodrigues

           Autores: Alain Oulman / Luís de Camões

                          

Com que voz chorarei meu triste fado

Que em tão dura paixão me sepultou

Que mor não seja a dor que me deixou

O tempo, que me deixou o tempo de meu bem desenganado

 

Mas chorar não estima neste estado

Aonde suspirar nunca aproveitou

Triste quero viver, pois se mudou

Em tristeza a alegria do passado, a alegria do passado

 

De tanto mal, a causa é amor puro

Devido a quem de mim tenho ausente

Por quem a vida e bens dele aventuro

Por quem a vida e bens dele aventuro

 

(Assim a vida passo descontente

Ao som nesta prisão do grilhão duro

Que lástima ao pé que a sofre e sente.)

 

13) Havemos de ir a Viana – Amália Rodrigues

         Autores: Alain Oulman / Pedro Homem de Mello

 

Entre sombras misteriosas

Em rompendo ao longe estrelas

Trocaremos nossas rosas

Para depois esquecê-las

 

Se o meu sangue não me engana

Como engana a fantasia

Havemos de ir a Viana

Ó meu amor de algum dia

Ó meu amor de algum dia

Havemos de ir a Viana

Se o meu sangue não me engana

Havemos de ir a Viana

 

Partamos de flor ao peito

Que o amor é como o vento

Quem pára perde-lhe o jeito

E morre a todo o momento

 

Refrão

 

Ciganos verdes ciganos

Deixai-me com esta crença

Os pecados têm vinte anos

Os remorsos têm oitenta

 

Refrão

 

14) Coimbra – Louis Armstrong + Amália

               Autores: José Galhardo / Raul Ferrão / José dos Santos

 

Coimbra do choupal

Ainda és capital

Do amor em Portugal, ainda

Coimbra onde uma vez

Com lágrimas se fez

A história dessa Inês tão linda

 

Coimbra das canções

Tão meiga que nos pões

Os nossos corações, à nu

Coimbra dos doutores

Pra nós os teus cantores

A fonte dos amores és tu

 

Coimbra é uma lição

De sonho e tradição

O lente é uma canção

E a lua, a faculdade

O livro é uma mulher

Só passa quem souber

E aprende-se a dizer saudade